O fim da tarde, enquanto o sol já não tinha a mesma força, trazia com ele a melancolia que Andrey conhecia bem. Ele estava de volta ao lugar que havia se tornado uma espécie de refúgio: sua própria mente, onde constantemente revivia o último instante em que viu Tatianni. A imagem dela desaparecendo no portão de embarque ainda era fresca, mesmo depois de tantos meses.

Em casa, ele tentou de novo. Abriu o aplicativo de mensagens e digitou uma simples frase: “Oi, como você está?” Sua expectativa já era nula, mas ainda assim, ele esperava algo. Três meses sem respostas, mas ainda não havia desistido completamente. No entanto, quando percebeu que a mensagem fora visualizada mais uma vez, sem resposta, algo dentro dele se quebrou. O cansaço emocional o atingiu com força. Ele apagou a mensagem e, naquele momento, desistiu.

Os dias se arrastaram e o silêncio de Tatianni era sufocante. Mesmo assim, Andrey se obrigou a seguir em frente. Não que fosse fácil, mas a vida, mesmo sem ela, não o esperaria. Cinco meses se passaram até o dia em que a mensagem inesperada de Theo apareceu em seu celular.

“E aí, Andrey, tudo bem? Passando para avisar que farei meu jogo mais importante esse fim de semana…”

“Se eu conseguir e destacar posso ser alçado ao time que vai disputar a Copa São Paulo…”

“meu sonho é jogar a próxima copinha, vê se aparece lá, o jogo vai ser em Cotia, no CT.”

Aquilo lhe trouxe um sopro de esperança, uma pequena distração da ausência que ele já começava a aceitar como definitiva. Theo, o irmão mais novo de Tatianni, estava prestes a alcançar algo importante em sua vida, e Andrey sentia que devia estar presente.

“Estarei lá, conte comigo. Voa moleque!”

No dia do jogo, Andrey chegou ao CT de Cotia e sentiu o familiar frio na barriga ao ver o estádio lotado, mas foi a presença de Clóvis, o pai de Tatianni, que mexeu com ele. A conversa entre os dois foi carregada de nostalgia e tristeza contida. O comentário de Clóvis sobre “Parece que não existe mais a família Sant’Ana para você” o atingiu em cheio, e Andrey percebeu que não era o único que sentia o vazio deixado por Tatianni. Andrey se desculpou, mas enquanto conversavam uma voz atravessou o assunto.

“Quem é vivo sempre aparece”

Era Thais, chegando com pipoca e refrigerante.

“Achei que não voltava mais” Disse seu pai.

Thais se aproximou e cumprimentou Andrey com um beijo no rosto e depois se afastou deixando Sr Clovis entre os dois na fileira.

A chegada de Thais no estádio trouxe uma tensão velada. Ela estava animada, como sempre, mas Andrey sentia uma camada oculta em suas interações. Havia algo em Thais que o deixava desconfortável, talvez pelo incidente meses atrás, ou pelo simples fato de que ela parecia ser a única a tirar algum conforto da ausência de sua irmã. Mas ele preferiu não pensar demais sobre isso, apenas se focando no jogo de Theo, que acabou sendo memorável.

Theo entrou em campo, começou como titular, usando a camisa 11 do time. O primeiro tempo foi pegado, o zero a zero no placar, embora fosse justo, era frustrante para aqueles que estavam ali torcendo.

Veio o segundo tempo e Theo parecia estar mais ligado no jogo, logo aos 5 minutos, encontrou um passe vertical que deixou o centroavante na cara do gol. 1 a 0 para o time da casa.
10 minutos depois, uma falta na entrada da área. Theo estava na bola, e bateu com qualidade e rara sorte, por cima da barreira, aumentando o placar para 2 a 0.

No final, em jogada dentro da área, Theo deixou dois marcadores para trás, e só foi parado pelo goleiro, com falta. Pênalti. Convertido pelo centroavante. Fim de jogo São Paulo 3 a 0 Capivariano. E havia grande expectativa que a apresentação de Theo lhe rendesse uma vaga no time da Copinha.

No fim do jogo todos se encontraram com o melhor jogador em Campo. O Seu Clovis parecia em outro mundo, eufórico, bem diferente do homem frustrado que era no fim do primeiro tempo. Ele abraçou Theo e disse que ele era o melhor filho do mundo. Andrey também lhe de parabéns e fez muitos elogios, principalmente sobre a parte tática do jogo. Thais não disse nada, apenas acompanhava.

Andrey começou a achar que ela só foi porque sabia que iria encontrá-lo, mas depois pensou melhor e achou que ele estava se superestimando.

Saindo de Cotia, todos foram jantar para comemorar. E escolheram o restaurante Paladino para a festa. Lá o Sr Clovis chamou o gerente, Sr Otávio, seu amigo e longa data e chefe de Tatianni. “Soube que minha filha vai ser sua sócia aqui” Então hoje eu quero tratamento VIP, heim. Afinal ela volta mês que vem.

“Sempre com essa conversinha, sempre com um motivo para querer tratamento especial. Como se precisasse de motivo. Vocês são sempre VIP aqui, mas pelo que eu sei, Tatianni não volta mês que vem.” Disse o Sr Otávio, que pegou todos de surpresa. “Vocês parecem surpresos, não estão sabendo? Eu pedi que ela ficasse um pouco mais e ela aceitou na mesma hora, vai ficar mais 4 meses e volta. Acho que ela deve ter se adaptado bem por lá, quem sabe não arrumou um namorado?” Ele ria enquanto falava. ” É bem a cara dela mesmo” Comentou Thais.

Andrey ficou chateado por receber essa informação assim, e por não ter nenhum sinal de vida da Tatianni. Sr Clovis também pareceu frustrado, mas Thais pareceu gostar da notícia.

Depois Andrey foi para sua casa, e não conseguia dormir enquanto tentava organizar seus pensamentos. “Estamos mesmo tão distantes? E não é só distância física.” Ele pensava.

Ainda buscando uma resposta que acalmasse seu coração, Andrey não sabia o que esperar dos próximos meses. Mais uma vez teve a ideia de ir para Paris atrás de Tatianni, mas ir atrás de alguém que nem lhe responde suas mensagens, parecia burrice.

Andrey acabou dormindo enquanto pensava.

Quando acordou, a primeira coisa que ele pensou foi que queria Tatianni por perto. A essas alturas ele já se questionava se essa obsessão era normal. Tatianni não saía de seu pensamento e ele se perguntava se isso era normal.
Pensou por um momento: “É como naquela música, é mais fácil Saturno voltar para mim, do que a Tatianni.” Fora todo esse conflito emocional, tudo estava indo bem na vida de Andrey, ele estava saindo da empresa de telecomunicações para uma empreitada pessoal. Agora a Feterine Tecnologia, sua jovem empresa, estava dando passos para crescer no cenário tecnológico. Andrey adquiriu diversos clientes, incluindo a empresa de Telecom em que trabalhava. Sua área de atuação agora era Inteligência Artificial. E sua empresa era considerada muito promissora, a ponto de conseguir grandes aportes financeiros para seus projetos, e até vendeu parte de sua empresa para uma empresa maior. Tudo estava indo bem, ele vencia a cada dia o cansaço e o medo do futuro. Enquanto esperava por um abraço que lhe poderia curar todas as dores do mundo.

“Será que isso é normal?”

 

 

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