15 de outubro finalmente chegou. Desde cedo, Jéssica sentia o coração acelerado, como se fosse uma adolescente indo para o primeiro encontro. Passara horas na frente do espelho, sem conseguir se decidir sobre a roupa certa. No fundo, sabia que o que vestisse pouco importava; Max não era o tipo de cara que reparava em detalhes, pelo menos, não nesse tipo de detalhe. O importante era que ele finalmente a veria.

Ela chegou ao shopping às 15h30, meia hora antes do combinado. Comprou um café, sentou-se perto de uma das fontes e olhava as pessoas andando de um lado para o outro, numa tentativa de controlar o nervosismo. “Ele vai aparecer, é claro que vai”, repetia a si mesma. Para Jéssica, Max era tudo, até mesmo em sua ausência. Cada conversa, cada troca de mensagens, cada momento no MSN era uma peça do quebra-cabeça que ela tentava montar, em busca de entender quem ele era e o que realmente significava para ela.

Às 16h00, como combinado, ela olhou para o relógio e ajeitou a postura. Com os olhos atentos, vasculhou o corredor do shopping, esperando que a qualquer momento ele surgisse, como uma aparição inesperada, com aquele ar meio desleixado e despreocupado. Às 16h15, já começava a achar que ele estava atrasado demais, mas não perdeu a paciência. “Ele deve ter se enrolado com alguma coisa”, pensou, tentando tranquilizar-se. “Talvez esteja a caminho, só mais alguns minutos.”

O tempo passou. Às 16h45, um nó se formava em sua garganta. Os minutos acumulavam-se em silêncio, e a excitação inicial deu lugar a uma tristeza cada vez mais palpável. Ela revisou suas mensagens, verificou o celular mais uma vez e conferiu o horário repetidamente, como se cada novo olhar trouxesse a confirmação de que ele estava a caminho. Mas não estava.

Quando o relógio marcou 17h30, Jéssica finalmente aceitou que ele não apareceria. Sentiu-se uma boba, como se tivesse criado uma expectativa de algo que nunca teve a intenção de acontecer. Ela respirou fundo, tentando ignorar o vazio que a atingia, e então levantou-se, dirigindo-se para a saída com passos lentos.

Já na calçada, o vento frio da tarde parecia cortar sua pele, intensificando a sensação de decepção. O celular permanecia em silêncio, sem uma explicação, uma desculpa, nada. A ideia de ir até ele, questioná-lo e exigir uma razão passou pela sua mente. Mas qual seria o ponto? Ele tinha feito uma escolha ao não aparecer — ou, talvez, ao simplesmente ignorar qualquer ideia de compromisso. Ele sempre tinha sido um pouco assim, imprevisível.

Mas, em algum canto da sua mente, uma pergunta sussurrava: “Se ele não se importa agora, em um simples encontro, por que se importaria no futuro?”

Jéssica parou diante do mar que se abria à sua frente e respirou fundo, deixando as ondas quebrarem na areia e levarem sua tristeza junto. Naquele instante, decidiu: talvez, de fato, estivesse na hora de reavaliar o que sentia e pensar mais em si mesma.

E enquanto o sol descia lentamente no horizonte, ela voltou para casa, sem saber que, apesar de tudo, aquele não seria o último 15 de outubro a marcar sua vida.

O tempo passou em um ritmo diferente para Jéssica e Max. Desde o encontro perdido, ambos mergulharam em seus mundos sem trocarem uma palavra sequer. Nenhuma mensagem no MSN, nenhuma tentativa de entender o que tinha acontecido ou por que Max não aparecera. Jéssica, ao contrário do que qualquer um que a conhecia bem esperaria, não foi atrás de respostas. Guardou aquele dia em silêncio, tentando enterrar a decepção e seguir adiante.

Max, por sua vez, sequer mencionou o encontro. Voltou a conversar com amigos e mantinha seu ritmo de sempre, ocupado entre as aulas e os estudos de física. Em algum ponto, estranhou o sumiço de Jéssica, mas não fez muito esforço para entender a razão. Talvez tivesse sido uma “crise passageira”, como ele pensava. Uma dessas mudanças súbitas que todos têm de vez em quando, e que, no fim, não significava muito para ele. Se fosse importante, ela o procuraria — era o que sua lógica impecável lhe dizia. E, assim, continuaram em um silêncio confortável, mas cheio de coisas não ditas.

As semanas viraram meses. Jéssica voltou a focar nos estudos e nas atividades extracurriculares da faculdade, ainda que fosse difícil para ela passar pelos corredores e lembrar das conversas longas e trocas de olhares que ela e Max dividiam antes daquele dia. Sabia que a ausência dele ainda a incomodava, mas decidiu ignorar e seguir em frente. Aos poucos, a imagem de Max foi ficando em segundo plano, e ela passou a se interessar por outras experiências. Precisava disso, de alguma novidade que a ajudasse a reorganizar seus sentimentos, e, no fim das contas, a vida lhe trouxe uma distração inesperada.

Foi numa dessas tardes, ao lado de amigos, que ela começou a ver Mark com outros olhos. Ele tinha aquele ar confiante e presença tranquila que a fazia sentir-se segura, um contraste enorme com a complexidade e os enigmas que Max representava. Em pouco tempo, ele se tornou um companheiro constante e, quase sem que ela percebesse, aquele rosto que era tão familiar se transformou em algo mais. Eles conversavam sobre tudo, riam das mesmas coisas, e ele parecia interessado em conhecê-la verdadeiramente, sem qualquer mistério. Quando Mark a convidou para um encontro oficial, ela aceitou sem pensar duas vezes, surpresa consigo mesma por sentir tão pouca resistência.

Max não sabia disso, e talvez jamais imaginasse. Continuava com suas rotinas, sempre racional e autossuficiente, certo de que sua vida estava em perfeita ordem. Por vezes, ainda pensava em Jéssica e nas conversas que tiveram, mas rapidamente descartava esses pensamentos, convicto de que, se ela quisesse contato, teria aparecido. Para ele, era simples assim.

Foi só meses depois, numa tarde comum, que ele soube da novidade — não pela própria Jéssica, mas pelos amigos em comum. Enquanto caminhava pelos corredores da faculdade, escutou comentários que ecoavam em risos e sussurros. “Jéssica está namorando o Mark”, alguém dizia com um sorriso de canto. Max não demonstrou reação alguma, apenas continuou andando, aparentemente imperturbável, mas por dentro, algo que ele não entendia o fez questionar, por um segundo, as escolhas que fizera.

Com um leve sorriso forçado, Max se afastou dos amigos, como se aquilo não importasse. E, ao virar o corredor, decidiu: não pensaria mais no que poderia ter sido.

Por um momento, Max se lembrou, e pensou: “Que dia era, mesmo?”, tentando lembrar do encontro que não aconteceu. “Ah, era 15 de Outubro”.

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