O impacto da notícia sobre o namoro de Jéssica com Mark teve um efeito que Max não esperava. Ele, que sempre se orgulhou de sua lógica imbatível e capacidade de manter as emoções sob controle, começou a sentir um turbilhão que não conseguia entender ou organizar. Pensar em Jéssica agora parecia errado — quase uma invasão de um território que não lhe pertencia mais. Mas, ao mesmo tempo, ele não conseguia afastá-la completamente de sua mente. Era como se algo dentro dele ainda quisesse decifrar o que exatamente significava tudo aquilo.
Os dias foram se arrastando, e Max começou a perceber que algo estava errado. Não conseguia se concentrar nos estudos como antes, suas notas começaram a cair ligeiramente, e até mesmo seu desempenho no futebol deixou a desejar. Ele dormia pouco, sua mente povoada por lembranças do encontro que nunca aconteceu e pela pergunta que martelava sem resposta: “Por que não fui?”
Mesmo com todos os sinais de que algo o incomodava, Max nunca comentava sobre isso com ninguém. Para seus amigos, ele era o mesmo Max confiante e sarcástico de sempre. Mas, por dentro, ele sabia que a situação com Jéssica estava mexendo com ele de formas que não conseguia controlar.
O tempo passou, e Max aprendeu a mascarar seus sentimentos com mais eficiência. Porém, foi com surpresa que, no fim de setembro, enquanto passava pelo corredor da faculdade, ouviu um grupo de colegas comentando algo que imediatamente chamou sua atenção.
— Parece que Jéssica e Mark terminaram. Ela voltou a andar sozinha.
As palavras ecoaram na cabeça de Max como um sinal inesperado, quase um convite. Ele não sabia o motivo, mas a simples ideia de que Jéssica não estava mais com Mark fez seu coração bater mais rápido. Havia uma oportunidade ali? Não, não era isso. Era algo mais profundo.
Quando chegou em casa naquela noite, depois de pensar durante horas, Max abriu o MSN e viu o avatar de Jéssica online. Ele hesitou por alguns segundos antes de digitar, mas, finalmente, sua curiosidade e inquietação falaram mais alto.
— MaxVillanueva diz: Oi.
— JessicaNasser diz: Oi? Depois de tanto tempo, você aparece?
A resposta de Jéssica era carregada de sarcasmo, mas Max sorriu. Isso era típico dela.
— MaxVillanueva diz: É, faz tempo. Como você tá?
Jéssica demorou alguns segundos para responder, como se considerasse se valia a pena seguir com aquela conversa.
— JessicaNasser diz: Estou bem. E você?
Eles começaram a conversar sobre amenidades, como se os meses de silêncio não tivessem existido. Depois de algum tempo, a conversa começou a se aprofundar. E então veio a pergunta inevitável:
— JessicaNasser diz: Por que você não apareceu aquele dia?
Max sentiu o peso da pergunta. Ele podia sentir a cobrança nas palavras dela, mas não sabia exatamente o que dizer. Afinal, ele mesmo não sabia o motivo.
— MaxVillanueva diz: Não sei. Sinceramente, não me lembro.
Houve uma pausa. Jéssica demorou mais para responder dessa vez, e Max quase achou que ela tinha saído.
— JessicaNasser diz: Eu terminei com Mark.
Max leu a mensagem algumas vezes antes de responder. Sentiu algo próximo de alívio, mas também sabia que era uma informação com implicações. Então, como que movido por um instinto que nem ele mesmo entendia, digitou sua próxima mensagem:
— MaxVillanueva diz: A gente devia tentar de novo. O encontro. Sem erros dessa vez.
Jéssica ficou em silêncio por alguns minutos, e Max pensou que ela fosse recusar. Mas, finalmente, veio a resposta que ele esperava:
— JessicaNasser diz: Ok. Mesma hora, mesmo lugar.
Max sorriu, sentindo-se mais confiante do que em meses. Dessa vez, não haveria desculpas. Ele faria tudo certo.
Eles marcaram o encontro para o mesmo dia, o mesmo local, no mesmo horário: 15 de outubro, exatamente um ano após o encontro que nunca aconteceu.
E, dessa vez, Max prometeu para si mesmo, ele não falharia.
A chuva lá fora formava pequenas poças pelo calçadão, e as pessoas corriam de um lado para o outro sob guarda-chuvas coloridos. Dentro do shopping, o som abafado das gotas era apenas um fundo discreto para a agitação do lugar. Jéssica estava sentada perto da praça de alimentação, em uma mesa próxima às grandes janelas de vidro. Ela usava um vestido amarelo, simples, mas elegante, com detalhes delicados nos ombros. Não sabia, mas aquela era a cor favorita de Max.
Enquanto esperava, a ansiedade crescia. Era um déjà-vu incômodo; sentar-se ali novamente trazia à tona memórias do encontro frustrado no ano anterior. Desta vez, porém, ela tentava manter o otimismo. Mexia distraidamente em seu cabelo, observando as pessoas que passavam, até que viu Max entrando.
Ele estava pontual. Confiante. Vestindo uma camisa social azul clara que parecia ter sido escolhida com cuidado e um sorriso despreocupado que imediatamente a deixou mais tranquila. Quando a viu, caminhou em sua direção sem hesitar.
— Oi, Jessie. — Ele disse, puxando a cadeira à sua frente e sentando-se com naturalidade.
— Oi, Max. — Ela respondeu, com um sorriso que misturava alívio e uma ponta de desconfiança.
Por alguns segundos, trocaram olhares como se tentassem decifrar um ao outro. Max parecia tão à vontade que era quase irritante, enquanto Jéssica se forçava a relaxar.
— Pensei que ia se atrasar. — Ela comentou, cruzando os braços.
— Prometi que não cometeria o mesmo erro duas vezes, não foi? — Ele respondeu, com um brilho nos olhos que a fez desviar o olhar, rindo de leve.
Depois de pedir algo leve para comer, passaram algum tempo conversando. A conversa fluía fácil, como se ambos estivessem tentando compensar o tempo perdido. Max falou sobre as aulas, as partidas de futebol, enquanto Jéssica contou sobre seus planos no curso de moda e algumas aventuras com suas amigas.
No meio da conversa, Max colocou o telefone sobre a mesa.
— Você sabia que esse lugar está muito melhor com você aqui? Acho que precisamos registrar isso.
Ele pegou o Motorola V3 lilás que parecia reluzir com o brilho das luzes do shopping. Jéssica levantou uma sobrancelha, curiosa.
— Você quer tirar uma foto?
— Claro! O futuro precisa saber que isso aconteceu.
Ela riu, divertida.
— Ok, mas só se eu aprovar.
Max posicionou o celular, tentando acertar o ângulo para que ambos aparecessem na tela minúscula. A primeira tentativa saiu borrada; na segunda, ele conseguiu enquadrar melhor, mas achou que estava muito sério.
— Acho que não tenho talento para selfies.
— Me deixa tentar, Max. — Jéssica pediu, pegando o celular das mãos dele. — Fica ali, encosta mais perto.
Ele obedeceu, encostando-se ligeiramente ao seu lado enquanto ela ajustava o celular. Jéssica fingia estar concentrada, mas uma ideia começou a se formar em sua mente.
— Assim? — Ele perguntou.
— Perfeito. Agora, fica quieto.
No exato momento em que Max se ajeitou, ainda sorrindo para a câmera, Jéssica se virou rapidamente e o beijou. Um beijo rápido e inesperado que o pegou completamente de surpresa.
Por um segundo, ele ficou imóvel, mas logo correspondeu, aprofundando o beijo com suavidade. Quando se afastaram, ambos estavam sorrindo como se fossem cúmplices de uma travessura.
— Isso foi… inesperado. — Max comentou, tentando parecer casual, mas claramente encantado.
— É que você estava demorando muito para tomar iniciativa. — Ela respondeu, provocando-o.
Max riu, balançando a cabeça.
— Você é impossível, Jessie.
— E você adora.
PRÓXIMO CAPÍTULO
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