O sol se punha devagar, tingindo o céu de tons alaranjados que se misturavam com o cinza das nuvens. O final de tarde no shopping fora leve e cheio de risadas, mas o que veio depois parecia ser tirado de uma cena de filme.
Jéssica e Max saíram do prédio de mãos dadas, ainda rindo de uma das muitas piadas dele sobre as vitrines absurdamente caras. Era natural demais para se questionar. Ela não retirou a mão quando ele a segurou, e ele não hesitou em entrelaçar os dedos nos dela.
No calçadão da praia, o vento do mar vinha carregado com o cheiro da chuva que tinha caído há pouco tempo. Eles andaram por um bom tempo, falando sobre tudo — filmes, música, sonhos que pareciam improváveis e outros que talvez já fossem realidade.
— Você é do tipo que guarda muitos segredos? — Jéssica perguntou de repente, olhando para ele com curiosidade.
— Eu? Não sei… acho que não. — Max fez uma pausa antes de acrescentar, com um sorriso meio culpado: — Ok, talvez eu tenha uns dois ou três bem escondidos.
— Vai me contar algum deles?
— Um dia, talvez. Mas por hoje, que tal você ser a misteriosa?
Jéssica deu de ombros, desviando o olhar para as ondas. O silêncio entre eles não era incômodo. Era confortável, cheio de significados não ditos.
A tranquilidade foi interrompida quando as primeiras gotas de chuva começaram a cair novamente. No início, eram tão suaves que pareciam uma parte da brisa, mas em poucos minutos a intensidade aumentou.
— Ah, não. — Jéssica suspirou, tirando um guarda-chuva pequeno de dentro da bolsa. — Pelo menos estamos preparados.
Max pegou o guarda-chuva da mão dela com uma expressão de triunfo.
— Sorte sua que eu estou aqui para salvar o dia.
O guarda-chuva era minúsculo, mal comportava os dois. Eles precisaram ficar bem próximos, quase colados, e o cheiro do cabelo de Jéssica misturou-se ao ar úmido ao redor deles.
— Você tem noção de que estamos andando como pinguins? — Max comentou, tentando desviar de uma poça enquanto segurava o guarda-chuva.
— Você fala demais, Max. Só anda. — Ela respondeu, rindo.
— Ok, mas se eu cair em uma dessas poças…
— Eu tiro uma foto antes de te ajudar.
Eles riram juntos, e a caminhada sob a chuva se transformou em um daqueles momentos que ficam gravados na memória por anos. As gotas escorriam pelas laterais do guarda-chuva, e o som da chuva misturava-se ao das ondas quebrando ao longe.
Pararam em um pequeno jardim onde o calçadão terminava. A chuva tinha diminuído, mas ainda caía de forma persistente.
— Por que você parou? — Max perguntou, curioso.
Jéssica não respondeu de imediato. Apenas olhou para ele, o rosto iluminado por uma mistura de emoções que Max não conseguiu decifrar. Então, ela sorriu e, de repente, inclinou-se para frente, ficando na ponta dos pés, e o beijou.
Foi um beijo demorado, sem pressa, cheio de tudo o que eles ainda não sabiam como dizer.
— Agora sim. — Ela disse, afastando-se um pouco, ainda sorrindo.
— Agora sim o quê?
— Nada. Só precisava fazer isso.
Max riu, um riso leve, como se o mundo fosse um lugar simples e perfeito por um breve momento.
O tempo parecia ter desacelerado, mas logo eles perceberam que a chuva estava ficando mais forte novamente. Decidiram voltar. Max acompanhou Jéssica até o ponto de táxi. Antes de ela entrar no carro, trocaram mais alguns beijos rápidos, rindo como adolescentes.
— Até a próxima? — Max perguntou, pensou naquele momento que ele apenas não queria voltar para a casa.
— Até a próxima, Max. — Jéssica respondeu, fechando a porta do táxi.
Ele ficou parado no ponto, vendo o carro desaparecer na chuva, com um sorriso tolo no rosto e o coração batendo mais rápido do que gostaria de admitir.
Uma semana depois
As conversas no MSN tornaram-se parte do dia a dia. Eles trocavam mensagens constantemente, desde os primeiros “bom dia” até os “boa noite” que sempre vinham acompanhados de um emoji ou piada interna.
Max diz:
— Jessie, preciso admitir que esse guarda-chuva salvou nossas vidas naquele dia.
Jéssica diz:
— Ah, ele salvou sua dignidade, isso sim. Sem ele, você teria voltado pra casa molhado que nem um pintinho.
Max diz:
— Engraçadinha. Tá com saudade de mim, é?
Jéssica diz:
— Talvez…
Max ficou olhando para a tela, rindo sozinho. A conexão entre eles parecia crescer a cada conversa, e ele sentia que precisava vê-la de novo.
Max diz:
— E aí, que tal marcarmos um novo encontro?
Jéssica diz:
— Max…
Max diz:
— Que foi? Não vai dizer que já cansou de mim, vai?
Jéssica diz:
— Não é isso. É que… eu preciso te contar uma coisa.
Max encarou a mensagem, uma sensação estranha de expectativa e preocupação tomando conta dele. Seja lá o que fosse, ele sabia que mudaria o rumo da história dos dois.
PRÓXIMO CAPÍTULO
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